Caro amigo, folgo muito saber que o amigo é um jovem. Em termos de geração, podia ser meu filho. Isso não contudo, não é, entendo eu, razão para não estabelecermos amizade em torno de pontos de vista comuns. Eu sou bastante mais velho, por isso estou em condições de contar o que foi a revolução de Abril e o despoletar de sensações quase impossíveis de descrever.
Eu que mercê da vivência anterior a esse acontecimento, era, direi, uma pessoa tímida devido a todo um clima intimidatório existente no meu local de trabalho, clima típico existente nas grandes empresas. Alterei completamente a minha personalidade, ao ponto de eu próprio quase não me reconhecer e não mais fui a mesma pessoa. Toda aquela onda de novas ideias e a possibilidade de averiguar o que era o regime derrubado e tudo o que era escondido, fez-me sentir algo que eu não pensava possível. Foi como se, até aí eu estivesse sendo traído e eu acabava de descobrir. Assistir a uma inversão dos que intimidavam nas relações entre mandados e mandantes e ver-lhes a apreensão pelas culpas que sentiam, era na verdade surpreendente.
Mas eles voltaram de novo, com novas nuances, não com as instituições repressivas de então, mas com novos métodos, não contra os que, através da política reclamavam democracia, não com a violência física, mas com a psicológica, praticada contra a generalidade dos cidadãos. Igualmente nos impõem o medo através da chantagem, onde a comunicação tomada por eles, é a peça central com que submetem este povo à chantagem. Num quadro destes destroem o país e as nossas vidas, entregando tudo o que sustentaria o estado social ao estrangeiro e endividado o país, onde perto de 20% de trabalhadores estão no desemprego e no desespero. Tudo pelas oligarquias e pelos especuladores, os quais comandam, e à ideologia que os servem. Criam deliberadamente, como método de desenvolvimento, um exército de vidas no desespero e na miséria, para atraírem abutres pelo despojos de vidas humanas, quais cretinos que não vêm que num quadro destes, os mais qualificados e mais jovens abandonam o país, e este deixa de ser viável economicamente e nele, a predominarem os velhos, deixando a suspeita que talvez tenham em mente uma qualquer solução final para um tal desequilíbrio etário.
Eis meu amigo o que são as minhas motivações, as quais não me dão sossego e que aqui partilho consigo.
Um abraço amigo
Poeta Maldito